Sinto falta do passado,

quando era tudo gostoso, quando nada doía. Eles chamam isso de nostalgia, né? Foda-se. Sinto falta do tempo em que eu colecionava folhas de fichário e figurinhas, porque agora eu coleciono apenas dores e desenganos. Naquele tempo todas as pessoas pareciam anjos e hoje elas estão com uma pitada tão demoníaca em seus corações. Sinto falta de amor, de felicidade, de doçura, de loucura. Sinto falta das coisas que não se deve sentir falta. Queria tanto ser cachorro, criança, mulher, monstro que mora embaixo da cama. Queria tanto ser sanfona. E pensando sozinho agora, vejo que há inúmeras maneiras de ser feliz, mas nenhuma delas envolve o amor, nenhuma delas envolve você e nós. E esses devaneios infinitos. E essa vida inexorável. E esse meu destino inefável e sem amor. Acho que seria melhor se pudéssemos escolher o quanto queríamos sofrer, seria mais prazeroso. Ah, hoje quero três doses de amargura e duas de tristeza bem pura, por gentileza. Eu nem tenho historinha nenhuma para acreditar mais, nem para ser feliz um tiquinho que seja.

[Adriano C.]